Páginas

quarta-feira, 28 de março de 2012

Blogagem coletiva: bilinguismo na Argentina

Este post bem que podia se chamar família Babel.
Guilherme e Felipe são a quinta geração de minha família a serem criados em um ambiente onde mais de um idioma e mais de uma cultura se misturam. Dos meus quatro bisavós maternos, apenas um não veio de um lar assim, mas terminou a vida falando três idiomas. Não sei ao certo como era nas casas dos meus bisavós e dos meus avós, mas sei como foi na casa de minha mãe e as marcas que isso deixou nela e em minha tia. Por isso hoje, adoto uma postura flexível com relação ao assunto aqui em casa, até por que ainda passaremos por outros países e outros idiomas terão que ser aprendidos.

Minha mãe nasceu na Argentina, mas aprendeu a falar norueguês antes de aprender espanhol, minha vó não queria perder a pratica do idioma materno dela e como meu avô entendia ... Quando minha tia entrou na escola foi que ela aprendeu espanhol e pouco tempo depois minha mãe aprendeu. Em casa, o idioma era o norueguês então, quando minha mãe e minha tia chegavam em casa ainda no embalo da escola e começavam a contar algo em espanhol, tinham que parar e recomeçar a contar tudo em norueguês, minha avó também falava com elas em norueguês  na rua, mesmo quando elas ficavam visivelmente constrangidas.

Pois assim, em casa eu nunca fui obrigada a falar nenhum idioma. Quando eu nasci, meus pais falavam entre si em inglês e minha mãe falava comigo em espanhol e norueguês, ela me ninava em norueguês. Uma curiosidade é que eu até ter o Guilherme sabia muito poucas canções brasileiras, aprendi com ele. As poucas que sei são canções de ninar norueguesas no inicio do século XX e algumas em espanhol. Eu aprendi espanhol com minha mãe e as férias aqui na Argentina funcionavam como intensivão, mas eu não tenho o sotaque de Mendoza como minha irmã tem.

Por hora, a regra aqui é casa é simples: nós nos falamos em português em casa e fora dela, até que o Guilherme ou o Felipe se mostrem incomodados com isso. Quando Guilherme fala em espanhol com a gente a gente simplesmente repete em português e ele rapidamente se reprograma, claro que há palavras que ele não sabe em português e aprendeu em espanhol, quando acontece isso nós ensinamos a palavra em português. Como em Cabo Verde se fala português "de Portugal", Guilherme ainda usa construções lusitanas e eu não comento, não estão erradas. A outra coisa é o sotaque, com relação a isso há muito pouco que eu possa fazer e, pra falar a verdade, é até charmoso ouvi-lo falar.

Para saber como outras famílias lidam com o ensino de um idioma dentro de casa basta clicar aqui.

17 comentários:

Cíntia disse...

Oi Neda,
Super legal ver uma pessoa adulta como você fazer o depoimento de como lidou com o bilinguismo. Sempre leio de mães com seus filhos pequenos, mas seu caso é diferente. Você já nesceu num ninho multicultural. Bacana compartilhar conosco.

beijão

Alice Mânica disse...

Oi, Neda!
Acho muito legal vocês compartilharem essas experiências. Também gosto muito de ler como a Flávia (do Vancouver) lida com a questão dos idiomas e como os filhos dela falam português e inglês tranquilamente.
Beijos.

Celi disse...

Neda,
Que diversidade, hein! Acho que isso que é o mais rico, conhecer as diferenças culturais e aprender a conviver com elas.
O mais coerente nisso tudo é a postura dos pais, no qual tendo clareza dos idiomas que querem transmitir aos filhos se mantém firmes e fortes. E acho que isso vocês apresentam com tranquilidade. O resto acontece, é só deixar fluir...
Beijos

Livia, mãe da Carol disse...

Sempre achei bárbara a trajetória da sua família e a forma como ela trabalhou todos esses idiomas. Acho que as coisas fluem assim, como vc disse, naturalmente. Guilherme e Felipe serão cidadãos do mundo e ainda terão muitos idiomas pela vida. Mas vc bem podia cantar uma musiquinhas para eles no idioma da bisa! Adoraria conhecer as tais cantigas de ninar em norueguês, se tiver um vídeo, manda pra mim? Bjs!

Karen disse...

Uau! Bárbara a sua história! Realmente Babel está aí :-) E você chegou a aprender norueguês também? E o português veio do seu pai ou vocês moraram no Brasil?

Beijo,
Karen
http://multiplicado-por-dois.blogspot.de

Neda disse...

Cintia, eu poderia até ter falado mais. A verdade é que ao longo da jornada da minha família há muitos erros e acertos. A Segunda Grande Guerra marcou muito a geração dos meus avós e eles optaram por não ensinar alemão aos filhos, na época tinha seu sentido,mas em retrospecto acho que muitos da geração de minha mãe gostariam de ter aprendido. A irmã de minha avó, que emigrou de volta para a Noruega, acabou abandonando o espanhol por conta do preconceito, uma família de quatro chegando a um país pobre e devastado pela guerra. Ela nunca esqueceu, mas os filhos mais velhos eventualmente esqueceram, nenhum tinha sido alfabetizado quando foram para lá.Histórias de família de imigrantes por natureza.

Alice, a experiencia da Flavia é muito rica. Também gosto de acompanhar.

Celi, como disse para a Cintia, muitas são por instinto, mesmo que seja o de proteção e sobrevivencia.

Livia, eu canto sim! Vou procurar uns videos e te mando. Por que gravar não rola, ninguém merece minha voz, essa deixo só para os filhos que não tem muita escolha.

Paloma Varón disse...

Neda, interessantíssima a história de sua família. Meu pai perdeu a oportunidade de me fazer bilíngue de nascença e eu, apesar de ter (pouco) contato com meus parentes em espanhol durante a infância, só fui aprender o idioma na faculdade. Por isso hoje agradeço e luto para que as meninas tenham acesso a este ambiente em que hoje vivem. Sei que para elas é benéfico.
Eu não acho que a gente deveria ter vergonha de falar um idioma diferente - seja ele qual for, desde que faça parte da nossa história - com nossos filhos. É daquelas coisas que acho que a opinião dos outros não pode interferir. Ainda mais no nosso caso, que somos expatriadas E nômades. Temos TODO O DIREITO de falar português (e/ou outra língua da nossa história familiar) com eles, não acha?
Beijos

Paloma Varón disse...

E, sobre a sua respota à Cíntia, eu te sugiro: por que vc não escreve mais? Continue abordando o tema, que, sim, interessa a muita gente.
Até eu já pensei em adendos para o meu post. Talvez eu faça outro. Mas vc deveria fazer, sem dúvida!
Beijos de novo

Andréa disse...

Olá Neda, que legal saber da tua história, é mesmo uma Babel. Qtos idiomas tu falas hoje? Obrigada pela visita no meu blog, volte sempre, eu tb voltarei aqui! Um abraco!

Paula disse...

Oi Neda primeiro obrigada pelo comentario la no blog e como disseram ai encima que bom é ver o depoimento de alguem q viveu a experiencia. Sua familia é ainda mais diversificada que a minha e acho que a grande vantagem é estar em contato com toda essa variedade. Aproveito para dizer que os seus filhos sao uns bonecos. Lindos demais! E eu tbm fiquei curiosa por saber mais da historia da sua familia. Que tal uma serie de postagens? Beijos

Nivea Sorensen disse...

Neda, acho que tranquilidade é a chave não? Acho forçar o aprendizado de um idioma (ou mais) não faz bem nenhum e só gera frustrações.
Um beijo

Lu disse...

Oi Neda, q legal essa diversidade toda!!

Acho q o poliglotismo (q traz junto um pluriculturalismo imenso) é um presente de valor inestimável q a gente pode dar a esses pequenos. Com certeza o mundo deles será mais rico, mais legal!!!

Beijos!

Ana Paula - Journal de Béatrice disse...

Neda!
Quanta riqueza nessa miscelânea linguistica e cultural! Adorei!

Unknown disse...

Neda querida, demorei mas cheguei!! Que mistura interessante na sua casa..e o melhor de tudo é que não tem pressão..excelente!!Adorei o seu texto!!Super bjs,Elo

Caroline disse...

Hola,
Muito legal sua história!
Na nossa casa é espanhol, português e algo de inglês... e vejo que as crianças multilingues, com pais mais tranquilos, vão muito bem obrigada!
Abraços,
Caroline

Clarinha disse...

Neda, gostei demais da postura de vocês quanto a repetirem a mesma construção que seu filho diz em espanhol, só que em português. Acho que assim ele percebe bem, e ele já consegue pela idade, que há dois idiomas (ou três?) e que a língua de casa é o português. Acho que essa parte do sotaque no falar português dele ainda pode mudar, pois ele terá períodos de férias no Brasil (certo?) e a experiência em Cabo Verde vai ficar cada vez mais distante no tempo. Beijão.

Daphne Pierin disse...

Neda, que història bàrbara! Nao è comum a gente conhecer alguém q tenha contato com tantas lìnguas(e culturas!) diversas, né! Mto legal aprender com sua història, certamente seus meninos serao agradecidos no futuro!
Bjs!
Daphne