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terça-feira, 24 de maio de 2011

O passado: Amamentação

Não, não vou falar do difícil que foi amamentar o Guilherme, por que verdade seja dita não foi. Mas tampouco foi assim de fácil, se não fossem a minha mãe e o João a coisa poderia ser bem diferente.
Quando Guilherme nasceu ele precisou de cuidados especiais e não pode amamentar na primeira hora como eu queria. Paciência ... Quando chegou ao quarto pediram para eu não amamentá-lo. Fazia mais de 15 horas que eu não comia e tinha acabado de ter um super queda de pressão. Naquela hora o hospital não tinha comida para mim, nem lembro o que o João trouxe para eu comer. A enfermeira sugeriu que eu esperasse a "especialista" do banco de leite. Mas ela não chegava nunca e Guilherme começou a chorar. Com a ajuda de minha mãe coloquei o Guilherme no peito e ele mamou, justo nessa hora entrou a neotalogista para ver se estava tudo bem e gostou de ver o rapazinho mamando. Depois de 4 horas a especialista apareceu. Pediu desculpas, e foi isso.
Os primeiros dias não foram fáceis, muito mais pela minha dificuldade de encontrar uma posição para sentar por conta da episiotomia e da laceração. Acordávamos João e eu e enquanto eu amamentava sentada na poltrona, João ficava cochilando no chão esperando para colocar o Guilherme para arrotar e depois me ajudar a sair da cadeira e voltarmos para a cama. Quando passei a amamentar na cama, era João quem ia buscar o Guilherme no berço e depois levava de volta.
Tive uma única rachadura, via estrelinhas na hora de dar o peito, mas continuei dando. Passei a ter mais cuidado para deixar secar bem depois de cada mamada e descobri que o LM tem ação antibacteriana, o problema é a saliva do bebê. Quando minha mãe voltou pra casa, vinte dias depois do parto, Guilherme e eu já estávamos bem adaptados à amamentação. Desde o início a livre demanda se mostrou a melhor opção para a nossa família. Naquele tempo não tinha lido o Dr. Gonzales, mas isso de ficar marcando horário, cronometrando o tempo é muito burocrático para um momento tão natural.
Se em casa a coisa ia bem, o fato de o Guilherme amamentar parecia preocupar quem não devia se meter no assunto. Também os pediatras pareciam não dar o apoio que se supõe que deveriam dar. O primeiro me saiu o clássico “leite fraco”, nunca mais voltamos. A segunda, no meio da minha volta ao trabalho e a adaptação do Guilherme a uma nova rotina sem a mamãe por perto o tempo todo, disse ao telefone que meu filho de 5 meses estava me chantageando e que nesses casos a solução era desmamar, nunca mais voltamos, já não estávamos satisfeitos com ela mesmo.
Quando Guilherme tinha 14 meses eu peguei catapora, EU! Liguei para o pediatra assim que recebi o diagnóstico e a indicação de suspender o aleitamento. O pediatra disse que se era para pegar, já tinha e assim continuei amamentando. Guilherme também ficou doente, foi forte, mas ele parecia indiferente a doença, brincava alegremente e só quando apareceram as pústulas na boca e garganta diminuiu o ritmo, mas o leite foi seu único alimento por uns dias.
Concordo com todo mundo que fala que as campanhas do Ministério da Saúde sobre aleitamento materno simplificam a coisa. Mas o problema não é só esse, a maioria dos médicos não dá a devida importância e o apoio que muitas mulheres precisam para seguir em frente. Quantas conseguem amamentar na primeira hora? Também falta a divulgações sobre todos os serviços que os bancos de leite disponibilizam, eles não são só um depósito de leite. Lá é onde estão os melhores profissionais de aleitamento materno.
Eu fui amamentada até os 9 meses, não foi exclusivamente, mas para o final da década de 1970 já era muita coisa. Minha mãe me amamentou mesmo com mastite, a pediatra na época foi categórica em dizer que só eu poderia ajudar minha mãe nessa hora. A irmã do meio mamou um ano e a caçula mamou um ano e meio, seis meses exclusivo. O meu exemplo era esse, era natural e nunca ouvi minha mãe reclamar, mas falava que a mastite doía. Minha mãe não amamentava em público e lembro-me de poucas vezes tê-la visto amamentar em outro lugar que não fosse a cadeira que ficava no quarto.
Guilherme se desmamou, um dia, em abril de 2008, ele decidiu que não queria mais e pronto. Foi pra nunca mais. A minha idéia era desmamá-lo apenas depois da mudança para Cabo Verde, depois dele ter completado os dois anos, mas ele tinha outros planos.
Como será desta vez? Não sei, tem tudo para dar certo e o mais importante: no que depende de mim, vou conseguir. Nada de ficar no discurso do vou tentar, eu vou conseguir! Além da experiência, da leitura, tem uma especialista em aleitamento cujo telefone está devidamente anotado e a La Leche League para me dar o apoio necessário.
Por hora, penso nas alvoradas que passaremos só os dois, em silêncio, como se fossemos os únicos no mundo. Também vou reviver as noites de sono picado por conta das mamadas com a certeza de que como tantos antes, vamos sobreviver.

3 comentários:

Paloma Varón disse...

Neda, concordo com tudo, tudo o que vc disse. E também tenho certeza de que vc vai conseguir desta vez e vai ser ainda mais fácil do que foi na primeira.
No mais, não só as propagandas do MS sao pouco efetivas, como eles não conseguem chegar nem aos profissionais de saúde (principalmente pediatras), que teimam em querer desmamar bebês no brasil afora pelos motivos mais ridículos (este da chantagem eu nunca tinha ouvido, cruzes!). Como pode isso, né? Aquele profissional em quem a gente deveria confiar a saúde do nosso filho é o primeiro a atentar contra ela? Acho inadmissível!
E adorei a sua frase de que BL não é só um depósito de leite. Eu mesma pensava que eram, quando tive problemas com a amamentação da Ciça nem me ocorreu procurar um... e não ghavia ninguém - nem grupo de apoio nem profissional nem campanha - para me informar de algo tão básico e precioso.
Por isso a gente tem de se cercar de muita informação antes, pois o período de puerpério é doloroso e estranho demais para que a gente pense racionalmente, mesmo nas coisas mais simples.
Beijos

Clarinha disse...

Neda, agora você tem muito mais informação e, com certeza, isso vai te ajudar muito. Acho que quando nos tornamos mães pela primeira vez é uma mudança muito radical e a gente fica meio tonta, às vezes perdida. Agora vc terá a segurança de quem já passou por isso, mesmo que seja tudo diferente! Vai dar tudo certo. Beijos

Flavia disse...

Neda,

que história linda de amamentação que você tem. Linda por ser real, instintiva e amorosa.

Infelizmente a realidade (no mundo inteiro?) ainda é que se conseguiu amamentar por 6 meses, tá tudo muito lindo e perfeito... depois... não precisa, já tem dentes, já comem, dormirão melhor sem a necessidade do peito e tantas outras desculpas que escutamos. Triste realidade!

Vai dar tudo certo dessa vez! Mais ainda! Certeza!

beijo