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terça-feira, 8 de março de 2011

Dia Internacional das Mulheres*

Em meados do século IXX a subita ausência de notícias do marido que havia deixado a Prussia para trabalhar na Argentina não era nada tranquilizadora e à minha  tataravó não restava outra opção que não viajar com as duas filhas, uma viagem longa e cheia de incertezas. A irmã e o cunhado também haviam se mudado para o novo continente não tinham sucesso nas buscas.
A adaptação ao novo país, novas lingua e cultura não deve ter sido fácil. E a cansativa busca pelo destino do marido ainda era o principal objetivo da viagem. Ao final, as buscas foram em vão e ele foi dado como desaparecido e o mais provável é que tenha falecido em algum tipo de acidente.
Apesar das dificuldades, voltar a Europa já não estava mais nos planos da família., ela havia conhecido um engenheiro sueco que estava na Argentina para trabalhar na construção das estradas de ferro, principalmente a Transandina (lado argentino). Eles se casaram e a vida seguiu seu rumo.
Minha tataravó não foi a primeira e, nem de longe, a última das mulheres da família a decidir emigrar ou ganhar o estatus de expatriada.  Seja para acompanhar marido, estudar ou trabalhar as últimas cinco gerações da família de minha mãe estão espalhadas pelo mundo. Sempre que tenho que encarar uma mudança não deixo de pensar em cada uma dessas mulheres que antes de mim fizeram isso, por opção ou por falta de opção, foram tentar a vida em outros lugares. Imagino como não terá sido, deixar a Prussia, fazer uma travessia de navio que durava muito mais do que as atuais 12 horas de avião e chegar a um lugar sobre o qual se sabia muito pouco.
Lembro agora, quando a minha mãe contava que quando chegou a Fortaleza, não havia um confeitaria que fizesse bolo de chocolate, com recheio de chocolate e cobertura de chocolate. Não que faltassem opções, não mesmo, mas é que o chocolate não era algo comum, pelo menos não nessa quantidade. Mas este é apenas um exemplo banal das coisas que nem pensamos que vamos nos deparar quando decidimos mudar de país.
Por outro lado, ao longo destes anos, tenho me deparado com realidades muito distintas e infelizmente, o poder economico ainda tem muita influência na vida das pessoas nos países mais pobres. Em quandt na Noruega uma amiga e o marido dividem a licença para acompanhar o primeiro ano de vida da filha e ao mesmo tempo não deixarem de lado a carreira (ela trabalha três dias na semana, ele dois). Em Cabo Verde, as mulheres deixam os filhos sob os cuidados dos avós e vão em busca de trabalho em Santiago, onde fica a capital ou emigraram para a Europa ou os EUA. A licença maternidade não chega a dois meses e as que querem amamentar tem que dar um jeito, quem pode dá um "pulinho" em casa e dá o peito, ou então deixam leite estocado em casa. A maioria das mulheres nem pensa na possibilidade de não ter filhos, mas muitas tem que escolher entre estar com os filhos e manter os filhos. Nada fácil.
Aqui na Argentina é tudo um pouco diferente e, até certo ponto, é como uma volta no tempo. Em Mendoza, não é raro as mulheres deixarem de trabalhar para cuidarem dos filhos, e como tem bebê na cidade! Claro que isso tem uma variação de acordo com a classe social, mas entre os ricos e os pobres não é raro ter três, quatro filhos. Chama a atenção quem tem só um e todo mundo pergunta e dá palpite sobre o tema. Na escola tenho vários tipos de mãe e acho curioso como todas se relacionam. No processo surgem amizades, cumplicidade, mas a sensação geral é que se passa a pertencer ao clube "de las mamas de la escuela" e é muito engraçado nas festas se apresentada assim.
Essas mulheres tem suas particularidades, mas as principais preocupações são as mesmas, facilitadas ou não pela realidade do lugar onde vivem.

* Este post faz parte de uma blogagem  coletiva em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.

Outras mamas também contam sua visão das mulheres que cruzam as suas vidas.

Australia.-Livia http://viagensdeumamaedeprimeiraviagem.blogspot.com/
Canada - Simone www.ocanadamequer.blogspot.com
Estados-Unidos – Paula http://nywithkids.blogspot.com/
França- Ana Paula: http://journalbebe.blogspot.com/
Holanda – Ingrid:  www.familyaround.blogspot.com
Indonésia – Maria Clara http://meumeninotigre.blogspot.com/
Inglaterra – Carol P: http://motherlovedatabase.blogspot.com/
Inglaterra – Claudia: http://filhos-bilingues.blogspot.com/
Irlanda – Nivea: http://www.niveasorensen.com/
Irlanda – Karine : http://www.kaentrenos.net/
Itália – Daniela: http://mamaesnaitalia.com/
Itália – Joice: http://www.avidadagravida.blogspot.com/
Mónaco – Roberta: http://betinhazinha.com/

Para saber mais sobre Mães Internacionais visite o site: http://www.maesinternacionais.com/

6 comentários:

Unknown disse...

Que história bacana!
Que seu dia e de tds as mulheres da sua vida, seja lindo!

x

Claudia Storvik disse...

Nossa, Neda, voce e uma expatriada com um pedigree e tanto! Parabens pelo Dia Internacional da Mulher. Bjs

Neda disse...

hehehehe,
Tô mais para viralata pretenciosa, Claudia!
Bjs

Nivea Sorensen disse...

Oi Neda, aqui na Irlanda tb impressiona o número de mulheres com 3 ou 4 filhos.
Um beijo pra vc,
N.

Paloma Varón disse...

Adorei sua história, Neda, a da sua família e as diferentes realidades que vc tem a oportunidade de vivenciar.
Beijos

D. disse...

Neda, muito legal conhecer um pouco da tua historia, dessas mulheres bravas e corajosas.
Abraço!